...a atravesar uma grande encruzilhada; quando Smith declara que "os que trabalham mais recebem menos" na nova ordem, estava a pensar em termos humanos e não em salários. Numa das passagens mais severas de A Riqueza das Nações escreve: "Com o avanço da divisão do trabalho, o emprego da grande maioria dos que vive do trabalho...acaba por se limitar a umas quantas operações muito simples; frequentemente a uma ou duas. ...O homem cuja vida inteira é passada a realizar umas quantas operações simples...torna-se geralmente o mais estúpido e ignorante que é possível uma criatura humana tornar-se".
Se isto parece ser um Adam Smith estranhamente pessimista, talvez seja porque ele era um pensador mais complexo do que a ideologia capitalista o faz.
Em A Teoria dos Sentimentos Morais ele tinha defendido anteriormente as virtudes da compreensão mútua e da capacidade de se identificar com as necessidades dos outros. A compreensão, defendia ele, é um sentimento moral espontâneo; irrompe repentinamente quando um homem ou uma mulher entende de repente os sofrimentos ou as tensões doutro.
A divisão do trabalho tolda, porém, a explosão espontânea; a rotina reprime o jorro da compreensão. Sem dúvida, Smith equiparou o crescimento dos mercados e a divisão do trabalho ao progresso material da sociedade, mas não ao seu progresso moral.
De Richard Sennett em A Corrosão do Carácter
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