"Olá, o meu nome é Ankur, chamem-me Mike"
"Rohail Manzoor, de 25 anos, considerava-se perfeitamente qualificado para trabalhar num centro de atendimento telefónico.
O trabalho consistia simplesmente em responder aos pedidos de informação formulados por clientes americanos sobre as suas facturas de comunicações de longa distância.
Estava bem preparado para o trabalho, pensava, pois tinha feito cursos de inglês para falar como um americano.
Após ter-se rebaptizado a si próprio como Jim, pensava passar por um empregado americano do serviço de clientes. Mas nada o tinha preparado para o chorrilho de insultos de que foi alvo nessa noite, quando atendeu o microtelefone. "Seu porco e estúpido indiano!, gritou um americano", conta vagarosamente Manzoor. "Insultou-me de todas as maneiras possíveis".
Estas palavras rancorosas e insultuosas tornam-se moeda corrente à medida que aumenta o ressentimento provocado pela deslocalização dos empregos para a Índia.
Aproximadamente 25 por cento dos funcionários dos centros de atendimento consideram que essa é, para eles, a principal causa de stresse profissional, revela um estudo publicado em finais de 2004 numa revista informática indiana.
Manzoor demitiu-se: sofria de hipertensão e de dores no peito.
Alguns centros que trabalham para empresas americanas organizam seminários de gestão do stresse, instalam ginásios e mesas de bilhar, e disponibilizam cursos de meditação, de ioga ou de respiração.
Se há os que incentivam os seus funcionários a revelar aos interlocutores americanos o seu nome verdadeiro e a cidade onde se encontram, a maior parte teme as consequências e proíbe que o façam.
Em Bangalore, Ankur Jaiswal, de 22 anos, cujo pseudónimo é Mike, presta assistência técnica aos utilizadores de computadores.
"Muitos americanos pedem logo para falar com um técnico americano", lamenta Jaiswal. "Então digo-lhes: "Sou indiano, mas vivo nos Estados Unidos". Eles insistem: "Nos Estados Unidos, onde?" Respondo que não estou autorizado a revelar o local.. Então, fazem-me perguntas sobre o tempo que faz".
Alguns centros estão equipados com ecrãs de televisão gigantes que indicam a meteorologia de diversas cidades americanas, o resultado do último jogo da equipa de basquetebol dos New York Knicks, ou o nome da peça mais recente em cena na Broadway.
Estas informações permitem aos operadores conversar com os seus interlocutores, ocultando o facto de se encontrarem na Índia.
Os funcionários também recebem uma formação acelerada em cultura americana.
Maneesh Ahooja, formador especializado no trabalho da voz e do sotaque, recomenda-lhes que vejam séries televisivas como Friends. "Descrevo-lhes todos os aspectos do estilo de vida americano", acrescenta. "Explico-lhes, por exemplo, que ao contrário do que se passa na Índia, os jovens abandonam cedo o casulo familiar".
Mas muitos funcionários admitem compreender a angústia dos americanos encolerizados. "Ficaria furiosa se alguém me tirasse o meu emprego", compadece-se Vidya Ramathas, de 24 anos, que trabalha em Bangalore. "Mas gosto do meu trabalho: deu-me liberdade e permitiu-me sair de casa dos meus pais"."
Rama Lakshmi, The Washington Post (excertos)