"Manuel é engenheiro de telecomunicações, tem 29 anos e conta com um brilhante desempenho académico na faculdade em que se formou.
Trabalhava há dez anos numa empresa de engenharia na qual rapidamente passou a assumir a responsabilidade por importantes projectos de engenharia economizando custos nos contratos de obras, ou por optimizar o rendimento dos materiais utilizados, o que lhe granjeou algumas inimizades, sobretudo entre uma série de engenheiros mais velhos, veteranos na empresa, que formam um grupo em torno dos interesses criados pelos fornecedores, dos quais recebem comissões por baixo do pano.
Manuel percebe já desde algum tempo que estes companheiros se referem a ele chamando-o de "pitagorista" ou "Einstein", ou que se riem dele quando intervém nas reuniões.
Ao cabo de poucos meses, Manuel dá-se conta de que, sistematicamente, lhe confiam os projectos mais difíceis ou os que apresentam mais problemas, para averiguar se são cumpridos no prazo de contratação.
No princípio, parece não dar importância a isso, considerando-o um desafio; todavia, vai constatando igualmente que os recursos humanos que lhe destinam para cumprir esses projectos são cada vez mais insuficientes, o que faz com que Manuel tenha de se multiplicar e acabe por trabalhar jornadas de dezasseis e até vinte horas.
Passado algum tempo, Manuel observa que "se excede" nas bebidas alcoólicas, que toma principalmente no final do dia.
O chefe de Manuel (que faz parte do círculo dos beneficiários das comissões dos fornecedores) empenha-se em criticar sistematicamente o seu trabalho, fazendo constantes referências a pequenos e insignificantes detalhes que se tornam excessivos em comparação com a magnitude dos projectos.
Isso faz com que Manuel se aplique ainda mais no seu trabalho, tendo a sensação de que "nunca é suficiente".
Outros chefes de projecto também atacam Manuel com críticas às escondidas aos seus projectos, das quais ele não tem certeza, pois são feitas nas suas costas.
Manuel consulta um médico por problemas de stress, insónia e ansiedade continuada.
Queixa-se especialmente de dores opressivas no peito, que o médico julga serem de origem psicossomática, uma vez que a patologia cardiovascular é descartada.
Na empresa, os companheiros da sua área começam a criticar a sua maneira de trabalhar, aduzindo que "está atacado" e que não colabora nem trabalha em equipa.
Alguns companheiros dirigem-se ao seu chefe para denunciar um tratamento vexatório e indigno por parte de Manuel.
Diante dessas acusações, que o chefe lhe lança no rosto, certo dia Manuel "explode" contra ele, negando-as e atacando por sua vez a qualidade do trabalho dos outros, fazendo ver como sempre é confiado a ele o trabalho mais duro e impossível de cumprir nos prazos previstos.
Nos três meses seguintes, Manuel é exonerado dos projectos mais importantes, sendo deixado num escritório com um telefone que não funciona e sem nenhuma actividade.
Passado algum tempo, pede para ver o chefe, que se nega sistematicamente a recebê-lo, sob o pretexto de estar sempre muito ocupado.
Entre os seus companheiros, começa a correr o rumor de que está a pensar em abandonar a competição e por isso está a fotocopiar dados técnicos de alguns projectos, para poder passá-los a outras empresas.
Depois de outros quatro meses, durante os quais sente enorme vazio e isolamento, Manuel consegue encontrar um cargo similar noutra empresa.
Não obstante, o seu antigo chefe entra em contacto com a nova empresa empregadora, dando más referências dele, atribuindo-lhe comportamentos desleais.
Manuel não supera o período experimental e é despedido.
Quatro anos depois, Manuel encontra-se parado, sofrendo de uma síndrome de fadiga crónica, que o impede de desenvolver qualquer tipo de actividade no trabalho, com uma sintomatologia depressiva e de ansiedade generalizada, motivo pelo qual recebe tratamento psicológico".
Iñaki Piñuel Y Zabala in Mobbing
Trabalhava há dez anos numa empresa de engenharia na qual rapidamente passou a assumir a responsabilidade por importantes projectos de engenharia economizando custos nos contratos de obras, ou por optimizar o rendimento dos materiais utilizados, o que lhe granjeou algumas inimizades, sobretudo entre uma série de engenheiros mais velhos, veteranos na empresa, que formam um grupo em torno dos interesses criados pelos fornecedores, dos quais recebem comissões por baixo do pano.
Manuel percebe já desde algum tempo que estes companheiros se referem a ele chamando-o de "pitagorista" ou "Einstein", ou que se riem dele quando intervém nas reuniões.
Ao cabo de poucos meses, Manuel dá-se conta de que, sistematicamente, lhe confiam os projectos mais difíceis ou os que apresentam mais problemas, para averiguar se são cumpridos no prazo de contratação.
No princípio, parece não dar importância a isso, considerando-o um desafio; todavia, vai constatando igualmente que os recursos humanos que lhe destinam para cumprir esses projectos são cada vez mais insuficientes, o que faz com que Manuel tenha de se multiplicar e acabe por trabalhar jornadas de dezasseis e até vinte horas.
Passado algum tempo, Manuel observa que "se excede" nas bebidas alcoólicas, que toma principalmente no final do dia.
O chefe de Manuel (que faz parte do círculo dos beneficiários das comissões dos fornecedores) empenha-se em criticar sistematicamente o seu trabalho, fazendo constantes referências a pequenos e insignificantes detalhes que se tornam excessivos em comparação com a magnitude dos projectos.
Isso faz com que Manuel se aplique ainda mais no seu trabalho, tendo a sensação de que "nunca é suficiente".
Outros chefes de projecto também atacam Manuel com críticas às escondidas aos seus projectos, das quais ele não tem certeza, pois são feitas nas suas costas.
Manuel consulta um médico por problemas de stress, insónia e ansiedade continuada.
Queixa-se especialmente de dores opressivas no peito, que o médico julga serem de origem psicossomática, uma vez que a patologia cardiovascular é descartada.
Na empresa, os companheiros da sua área começam a criticar a sua maneira de trabalhar, aduzindo que "está atacado" e que não colabora nem trabalha em equipa.
Alguns companheiros dirigem-se ao seu chefe para denunciar um tratamento vexatório e indigno por parte de Manuel.
Diante dessas acusações, que o chefe lhe lança no rosto, certo dia Manuel "explode" contra ele, negando-as e atacando por sua vez a qualidade do trabalho dos outros, fazendo ver como sempre é confiado a ele o trabalho mais duro e impossível de cumprir nos prazos previstos.
Nos três meses seguintes, Manuel é exonerado dos projectos mais importantes, sendo deixado num escritório com um telefone que não funciona e sem nenhuma actividade.
Passado algum tempo, pede para ver o chefe, que se nega sistematicamente a recebê-lo, sob o pretexto de estar sempre muito ocupado.
Entre os seus companheiros, começa a correr o rumor de que está a pensar em abandonar a competição e por isso está a fotocopiar dados técnicos de alguns projectos, para poder passá-los a outras empresas.
Depois de outros quatro meses, durante os quais sente enorme vazio e isolamento, Manuel consegue encontrar um cargo similar noutra empresa.
Não obstante, o seu antigo chefe entra em contacto com a nova empresa empregadora, dando más referências dele, atribuindo-lhe comportamentos desleais.
Manuel não supera o período experimental e é despedido.
Quatro anos depois, Manuel encontra-se parado, sofrendo de uma síndrome de fadiga crónica, que o impede de desenvolver qualquer tipo de actividade no trabalho, com uma sintomatologia depressiva e de ansiedade generalizada, motivo pelo qual recebe tratamento psicológico".
Iñaki Piñuel Y Zabala in Mobbing