Os acionistas e os aficionados da Apple veem-se assim confrontados com um dilema moral: será que podem regozijar-se com a explosão das ações da Apple e murmurar palavras doces a Siri, a assistente pessoal virtual do iPhone 4S, e, ao mesmo tempo, manter o silêncio sobre as terríveis condições de trabalho que vigoram entre os fornecedores da Apple?
No entanto, a empresa não cometeu nenhum delito. Do ponto de vista legal, não é responsável pelo que se passa nas fábricas chinesas.
Por outro lado, no mundo empresarial, raramente hesitamos quando se trata de desrespeitar os princípios morais.
Nunca confundimos os resultados financeiros com as nossas pretensões de sermos campeões da moral, dos comportamentos éticos, das boas práticas e da decência.
A fronteira entre aquilo que é correto, do ponto de vista legal, e aquilo que é justo, do ponto de vista moral, é bem clara.
E essa fronteira separa igualmente o lado privado e moral da nossa vida do nosso lado profissional e público.
No mundo do trabalho, considera-se que todos os abusos são permitidos.
E entre as 9 e as 17 horas os nossos atos nunca estão dependentes de critérios morais.
É apenas na esfera da sua vida privada que homens e mulheres estão sujeitos a julgamento moral.
No mundo do trabalho, a moral não tem lugar, porque o sucesso profissional se transformou em regra de ouro.
Podemos atirar pedras à Apple. Talvez os iPhones tenham alguns telhados de vidro.
Talvez a empresa faça tudo o que está ao seu alcance para conciliar dois imperativos, o moral e o financeiro: responder às exigências dos consumidores e dos acionistas e respeitar o exigente legado do seu fundador, preocupando-se em simultâneo com as condições de vida daqueles cujo trabalho consiste em montar as joias da modernidade.
Mas o problema é bastante mais vasto: reside na nossa recusa em aplicar os nossos princípios morais a tudo aquilo que fazemos, e não apenas à Apple."
Fonte: Courrier Internacional Março de 2012