"Quem nunca sentiu inveja de um colega mais bonito ou com maior êxito?
Quem não teve já ciúmes de um colega de trabalho pela sua ascensão profissional e lhe desejou o pior, ou sentiu um prazer perverso com o fracasso de um conhecido? Porém, é raro admitirmos esses sentimentos perante os outros, pois a vergonha que nos causam leva a que os mantenhamos em segredo.
Não estamos dispostos a aceitá-los como sendo nossos, pois para o nosso eu ideal, o que está em sintonia com a imagem que pretendemos projectar, não é admissível sentir inveja, ciúme ou vontade de prejudicar alguém; são coisas que nos envergonham e nos fazem parecer ridículos, fracos, ou de má índole face ao olhar alheio.
Por isso, os maus pensamentos só surgem à superfície em momentos de máxima tensão, quando o inconsciente emerge de forma automática, sem que o possamos impedir.
De todas as ideias negativas que nos passam pela mente, nenhuma nos envergonha mais do que a inveja.
Trata-se do sentimento com pior reputação e mais difícil de admitir, pois fazê-lo significa que a pessoa se sente inferior e tem ciúme do êxito dos outros.
Luis Vives, um filósofo do século XVI, descrevia a inveja como uma espécie de encolhimento do espírito causada pelo bem alheio.
Representa o estigma de Caim, algo de socialmente inaceitável que nos faz sentir especialmente culpados quando o alvo da nossa inveja é um amigo próximo.
Nos locais de trabalho, são frequentes os ciúmes e a inveja daqueles que mostram capacidades que superam as dos colegas.
No entanto, a inveja não é sempre um pensamento negativo. Tudo depende de como é canalizada.
Se tivermos inveja de um colega e procurarmos copiá-lo para nos superarmos a nós próprios sem que a nossa conduta o prejudique, isso não é mau.
Neste caso, a inveja funciona como um motor positivo para melhorar a nossa posição e as nossas expectativas vitais.
É essencial ter auto-estima e uma escala de valores equilibrada.
Se formos coerentes e soubermos separar a realidade do desejo, não faremos mal aos outros."
Fonte: Revista Super Interessante - Março de 2005