Revisito hoje, parte de uma crónica intitulada de "sexto sentido", da revista Máxima, cuja autoria é de Isabel Leal, psicóloga, e cujo título é "Psicoterapias. Para quem? Para quê?".
"(...) Não há espaço nem disposição para aguentar dores alheias. Ter tido uma doença grave, ter perdido uma relação significativa com uma pessoa ou uma organização não é tema de conversa em nenhum lado.
Escreve-se nos livros e nas revistas e vê-se em filmes e documentários as teias complexas da sensibilidade humana.
Dão best-sellers os relatos dos que sobreviveram ao cancro, dos que foram ou se sentiram negligenciados em criança, dos que passaram por experiências intensas, mas as histórias têm de ter sempre um final feliz e ser referidas ao passado.
Não se espera que no quotidiano as pessoas falem de si, dos seus processos de sofrimento e angústia e se exponham profundamente.
Resulta inestético e incómodo, e parece que ninguém sabe o que há-de dizer.
Temos assim que, provavelmente, a maioria de nós acaba por acreditar que para manter a estima e consideração do mundo que nos envolve não pode dar o flanco, não pode queixar-se, não pode falar dos sonhos megalómanos e dos medos atávicos.
Não pode fugir aos desempenhos perfomantes, aos papéis sociais, às relações de conveniência.
Rodeadas de gente, muitas pessoas sentem-se sózinhas.
Cheios de sucesso, muitos sentem-se um bluff.
Sabendo bem o que deveriam dizer ou fazer, muitos não o conseguem.
Para todas estas situações, infelizmente, cada vez mais comuns, a psicoterapia costuma ajudar.
E para lá de tudo isto, há sempre "o ser mais e o ser melhor" de que a Maria Velho da Costa falava a propósito das razões por que se faz psicoterapia."