"O Sindicato dos Enfermeiros da zona Norte pretende apresentar uma queixa-crime no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP), contra Berta Nunes, coordenadora da Sub-Região de Saúde de Bragança, por “abuso de poder” e atitudes permanentemente “persecutórias”.
Esta intenção foi manifestada por José Azevedo, delegado sindical, durante uma conferência de imprensa convocada pela concelhia do PSD de Alfândega da Fé, precisamente, para denunciar vários casos de funcionários do centro de saúde local que se dizem vítimas de perseguição política.
Berta Nunes, do PS, foi candidata à Câmara de Alfândega da Fé em 2005 e saiu derrotada.
Os cinco funcionários que se dizem “perseguidos”, são pessoas com conhecidas ligações ao PSD.
“Há aqui uma perseguição cega”, afirmou o presidente da Câmara João Carlos Figueiredo, considerando que a sua adversária política está a “instrumentalizar” os serviços públicos, para levar a cabo vinganças mesquinhas.
Os funcionários queixosos, um médico, três enfermeiros e um administrativo, têm sido alvo de sucessivos processos disciplinares.
O médico, Eurico Carrapatoso, por exemplo, que era director do Centro de Saúde e delegado de saúde concelhio, na altura das eleições, tem um processo em curso por desobediência qualificada, alegadamente, porque foi afastado das suas funções no dia das eleições, por ser primo do candidato do PSD, mas manteve-se ao serviço, entre as 8h00 e as 10h15, enquanto aguardava por uma médica do Porto, indicada para o substituir.
Dois enfermeiros do centro de saúde, também prestadores de serviços na Santa Casa da Misericórdia local, foram igualmente acusados de violação dos deveres profissionais e processados disciplinarmente, por terem acompanhado alguns idosos às urnas, ainda em 2005.
“Eu acompanhei alguns idosos com a devida autorização mas a Dr. Berta Nunes e o marido, sem autorização de ninguém também o fizeram, levaram os utentes que quiseram no seu carro particular”, acusou indignada Conceição Chino que, conjuntamente com o enfermeiro Carlos Bebiano, responde por um segundo processo disciplinar por acumulação de funções no centro de saúde e na misericórdia.
“Este processo nem sequer faz qualquer sentido porque os médicos e os enfermeiros estão dispensados do pedido de autorização para a acumulação de funções e os serviços prestados na misericórdia são prestados a uma entidade privada”, explicou José Azevedo convencido da existência de “um erro de forma”, nesta acusação.
Edite Justo, enfermeira-chefe, junta-se à lista acusando a coordenadora da sub-região de saúde de a ter convidado várias vezes a demitir-se: “Como eu nunca aceitei sinto que estou a ser perseguida”, sublinhou acrescentando que nesta altura já vai com três processos disciplinares.
Nesta altura a enfermeira-chefe do centro de saúde de Macedo de Cavaleiros desloca-se três dias por semana em Alfândega da Fé, “gerando conflitos de autoridade que acabam por deixar a equipa desorientada”, disse.
O presidente da concelhia do PSD, Artur Aragão, diz que este clima de perseguição é “imoral” e inaceitável.
Figueiredo acrescenta que se vive no município “em estado de sítio”, acusando a adversária socialista de “proceder à execução sumária daqueles que ela julga não terem estado consigo nas autárquicas de 2005”.
Estas acusações vêm a publico numa altura em que Berta Nunes já assumiu a sua intenção de se apresentar novamente na corrida à presidência.
Figueiredo alega que inicialmente pensou que era “uma brincadeira de mau gosto”, sem consequências práticas mas os processos são reais, estão a ser acompanhados pela Inspecção Geral das Actividades da Saúde e, nalguns casos, o resultado pode chegar à demissão compulsiva dos arguidos do Serviço Nacional de Saúde."
In Público 26/01/2008
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